Sou a Fernanda Riceto, tenho o diagnóstico de esclerose múltipla, uma patologia rara, autoimune, e incurável. Ela atinge, em sua maioria, mulheres jovens. Não se sabe ao certo os motivos que levam essa resposta autoimune a se desenvolver. Porém o desafio já tinha iniciado, e eu não sabia se estava pronta para tantas mudanças…
Em 2009, quando eu tinha 19 anos, e era uma jovem que estava em seu primeiro emprego, já fazia faculdade e tinha uma lista de sonhos para realizar em cada etapa da vida, tudo muito planejado, com datas e horários, com a primeira viagem de avião marcada para o início do ano, afinal dominar o planeta o quanto antes, era a meta. Contudo, havia um desafio que precisava enfrentar antes de concluir meus planos.
Em Julho de 2009 comecei a sentir fraqueza muscular, e a perder os movimentos dos membros inferiores. Era um pouco assustador, mas acreditei que era excesso de trabalho, e estudo. Fui ao médico, e ele disse que era psicológico, e logo iria passar, e me receitou algumas vitaminas. Eu comprei as vitaminas e comecei a tomá-las, afinal já havia perdido um dia todo em consulta, e minhas atividades estavam atrasadas. Eu pensava: essas vitaminas vão resolver, não posso nem sonhar em pegar mais um dia de atestado, tenho metas a cumprir!
Nesse meio tempo os sintomas foram piorando, e em Setembro eu já não conseguia ficar em pé por muito tempo, aquelas vitaminas não estavam me ajudando. Depois de pesquisar mais sobre os meus sintomas, a orientação era procurar um neurologista. Poderia ser algo mais sério. Assim eu fiz, e em Outubro recebi o diagnóstico de: ESCLEROSE MÚLTIPLA! No intervalo de 3 meses, já não conseguia me locomover sem auxílio de uma cadeira de rodas.. Nesse momento, eu era o desafio, e por vários instantes pensei em desistir, afinal como poderia uma vida mudar em 3 meses, da água para o vinho? A partir daí, tive que me dedicar a saúde e aos tratamentos complementares. E O QUE ACONTECEU COM SEUS SONHOS? Bom, sendo sincera, eles estavam na UTI (Unidade de tratamento intensiva). Eu não podia deixar eles morrerem, mas me encontrava frágil demais para realizá-los naquelas proporções planejadas.A partir daí foram anos de autoconhecimento, Reaprender a viver de acordo com a nova realidade, aprendi a acolher o sofrimento, e olhar para a vida com uma outra perspectiva.
Hoje, após 14 anos, com olhar mais maduro, resolvi compartilhar minha história. Ahhh, e os sonhos não estão mais na UTI, já respiram sozinhos, e tem novos planos, de acordo com sua realidade. Todos os dias o propósito alimenta a vontade de viver.
Com carinho,
Fernanda Riceto.
